Aridez espiritual
Diz
São Francisco de Sales: “É um erro querer medir a nossa devoção através das
consolações que experimentamos. A verdadeira piedade no caminho de Deus
consiste em ter uma vontade resoluta de fazer tudo que lhe agrada”.
Deus
une a si as almas que ele mais ama através da aridez espiritual. O que nos
impede a verdadeira união com Deus é o apego as nossas inclinaçõesdesordenadas.
Por isso,
quando Jesus quer atrair uma alma ao seu perfeito amor, procura desprende-la de
todos os apegos aos bens criados. Assim a vai afastando dos bens temporais, dos
prazeres mundanos, das coisas, das honrarias, dos amigos, dos parentes, da
saúde física. Por meio dessas perdas, desgostos, desprezos, mortes e
enfermidades, ele a vai desprendendo de todas as coisas criadas para leva-la a
colocar no seu Criador todas as suas afeições.
Para
afeiçoá-la aos bens espirituais, Deus lhe faz experimentar muitas consolações sensíveis.
Por isso,
a alma procura desapegar-se dos prazeres sensuais e até mesmo praticar
mortificações. É preciso que seu diretor espiritual a ajude negando-lhe licença
de fazer mortificações, ao menos em tudo que pede. Levada por esse entusiasmo sensível,
poderia facilmente prejudicar a saúde.
É tática do demônio,
vendo uma alma dar-se a Deus e percebendo que Deus a consola como o faz com
principiantes, procura fazer-lhe perder a saúde com penitências indiscretas. Depois,
vindo as doenças, poderá deixar não só as penitências mas também a oração, a
comunhão e todos os exercícios piedosos e voltar a vida antiga.
Por isso,
o diretor espiritual desse ser muito sóbrio em conceder licenças a essas almas
que começam a vida espiritual e procuram penitências. Procure exorta-las a se
mortificarem interiormente, sofrendo com paciência os desprezos e contrariedades,
obedecendo aos superiores, refreando a curiosidade dos olhos e dos ouvidos e
outras coisas semelhantes. Diga-lhes que depois, quando tiverem adquirido o
costume de praticar essas mortificações interiores, poderão praticar as
mortificações externas.
É claro o erro
daqueles que dizem que as mortificações externas de nada ou pouco servem. Está fora
de dúvida que as mortificações internas são necessárias a perfeição. Mas nem
por isso deixam de ser necessárias também as externas.
Dizia São
Vicente de Paulo que quem não pratica as mortificações externas, não será
mortificado nem externa nem internamente. E acrescentava São João da Cruz que não
se deve dar crédito a um diretor espiritual que despreza as mortificações
externas, ainda que ele fizesse milagres.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII–
Santo Afonso Maria de Ligório
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