sexta-feira, 11 de abril de 2014

Coração manso (Santo Afonso)

Quem ama a Jesus Cristo, não se irrita com o próximo
1. A virtude de não se irritar nas contrariedades que acontecem, é filha da mansidão. Por ser uma virtude que deve ser continuamente praticada por quem vive no meio dos homens, trataremos aqui apenas de alguns pontos mais particulares, mais uteis na prática.

            2. A humildade e a mansidão foram as virtudes mais estimadas por Jesus Cristo. Por isso ele disse aos seus discípulos: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” Mt11,29.
- Nosso redentor foi chamado cordeiro: “Eis o Cordeiro de Deus” Jo1,29, não só pelo sacrifício que devia fazer na cruz para satisfazer pelos nossos pecados, mas também pela mansidão manifestada em toda sua vida, especialmente na sua paixão. Na casa de Caifás, recebeu uma bofetada daquele servo que, ao mesmo tempo, o tratava como um atrevido: “Assim respondes ao pontífice?” Jesus só disse estas humildes palavras: “Se falei mal, dize-me em que; se falei bem, por que me bates?” Esta mansidão ele continuou a vive-la até a morte. Pregado na cruz, enquanto todos caçoavam e praguejavam, ele apenas dizia ao Pai Eterno que lhes perdoasse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” Lc23,34

Coração manso
            3. Como são caros a Jesus Cristo os corações mansos. Recebendo ofensas, desprezos, calúnias, perseguições e até mesmo pancadas e ferimentos, não se irritam contra quem os injuria ou maltrata.
“Sempre lhe agradaram as súplicas dos mansos” As eles, de modo especial, está prometido o céu”: “Bem aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra”.
- Padre Alvarez dizia que o paraíso é a pátria dos desprezados, perseguidos e oprimidos. A eles, e não aos orgulhosos, que são honrados e estimados pelo mundo, está reservada a posse daquele reino eterno.
- As pessoas bondosas não só alcançarão a felicidade eterna na outra vida, mas já nesta terra gozarão de uma grande paz. Isso é verdade, porque os santos não guardam ódio de quem os maltrata, mas os amam mais do que antes. O Senhor, em recompensa a sua paciência, aumenta-lhes a paz interior.

- S.Tereza: “As pessoas que falam mal de mim, parece que eu as amo com maus amor”. Mais tarde, disseram dela: “As ofensas eram para ela alimento de amor”, isto é, as ofensas davam-lhe mais oportunidade para mais amar aquelas pessoas que mais a ofendiam.
- Tal mansidão só possui quem tem grande humildade e pouco conceito de si mesmo, pelo que julga merecer todo o desprezo. Por isso mesmo, os orgulhosos são sempre raivosos e vingativos, porque julgam-se bons e acreditam ser merecedores de toda a honra.

Morrer no Senhor
            4. “Bem aventurados os que morrem no Senhor”. É preciso morrer no Senhor para ser bem-aventurado, para gozar a felicidade desde esta vida. Esta felicidade é a que podemos ter já antes de ir para o céu, muito menor na certa do que a alegria do céu, mas que supera a todos os prazeres sensíveis desta vida: “A paz de Deus, que vai além de toda a compreensão, guarde vossos corações e vossos espíritos” Fl 4,7
            Para alcançar essa paz, mesmo no meio das ofensas e calunias, é preciso estar morto no Senhor. O morto, ainda que maltratado e desprezado pelos outros, não se ressente. Também a pessoa manda de coração, como o morto vê nem ouve, procura suportar todos os desprezos. Quem ama de coração a Jesus Cristo chegará facilmente a isso.
            Quem ama de coração a Jesus Cristo chegará facilmente a isso. Unido inteiramente com a vontade de Deus, com a mesma paz e a mesma tranquilidade, recebe as coisas favoráveis e as desfavoráveis, as alegrias e as tristezas, as injurias e os louvores. Assim fez São Paulo que podia dizer: “Estou cheio de alegria no meio de minhas tribulações”.
            Feliz aquele que atinge esse grau de virtude! Goza de uma paz contínua, que é bem maior que os outros bens do mundo.
S.Francisco Sales: “Que vale todo o mundo em comparação com a paz do coração?” Realmente, o que adiantam todas as riquezas e todas as honras do mundo para quem vive inquieto e sem paz no coração?

            5. Para estarmos sempre unidos com Jesus Cristo, é preciso fazermos tudo com tranquilidade, sem nos inquietarmos com alguma dificuldade que se apresente: “O Senhor não está na agitação” Deus não mora nos corações agitados!
- Vejamos os belos ensinamentos que nos dá o mestre da mansidão, S.Francisco Sales: “Nunca vos irriteis, nem mesmo abrais a porta a cólera por qualquer motivo. Se ela entrar em nós, já não poderemos expulsá-la nem dominá-la, quando quisermos. Os meios para isso são:
1º.    Afastar imediatamente a cólera, desviando a atenção para outra coisa e calando-se.
2º.    Imitando os apóstolos quando viram a tempestade, recorrer a Deus a quem pertence pôr o coração em paz.
3º.    Se a cólera, por vossa fraqueza, já colocou o pé em vosso coração, esforçai-vos por vos tranquilizar e, depois, praticai atos de humildade e de mansidão para com a pessoa com quem vos sentis irritados. Tudo isso deve ser feito com suavidade e sem violência, porque é importante não irritar mais as feridas”.

- O próprio São Francisco de Sales dizia que precisou se esforçar durante toda a sua vida para vencer duas paixões que o dominavam: a cólera e o amor. Para vencer a paixão da cólera, confessava ter se esforçado durante vinte e dois anos. Quanto a paixão do amor, tinha procurado modificar o objeto, deixando as criaturas e dirigindo todos os seus afetos a Deus. Desse modo alcançou uma paz interior tão grande que até mesmo exteriormente a demostrava, apresentando quase sempre um rosto sereno e um sorriso nos lábios.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XII– Santo Afonso Maria de Ligório

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